Inicial

 

 

Comunidades em missão, testemunhas autênticas.

No livro dos Atos dos Apóstolos se reflete a realidade de quase todas as comunidades cristãs, desde a primeira comunidade de Jerusalém, da Samaria, do litoral do Mediterrâneo, da Síria, da Ásia, da Grécia e de Roma. Abrange um período histórico longo de quase 60 anos até a finalização da redação da obra. Nos anos da redação de Atos, entre 80 e 90 E.C., as primeiras lideranças da Igreja já haviam morrido. Foi um período de muitos conflitos entre judeus e cristãos na iminência de uma separação definitiva das sinagogas e do reinicio das perseguições do Império Romano contra os Cristãos.

Surgiram dificuldades internas com as novas lideranças que foram assumindo a orientação das comunidades, causando, algumas vezes, disputas e divisões. A influência de falsos doutores espalhava a confusão em meio às comunidades, com novas doutrinas e interpretações diferentes sobre a pessoa e a mensagem de Jesus. No decorrer dessa situação “a Palavra do Senhor crescia […]” (At 5,42). O número de pessoas que aderiam a Jesus Cristo, pela obra evangelizadora dos ‘missionários’, crescia dia a dia (At 4,4).

A força motora para esse clamor missionário é o Ressuscitado, que conferiu um novo sentido à história do povo de Deus. Ele abriu os olhos dos discípulos, como aos dois de Emaús, para que eles pudessem reler, com olhos novos, todas as Escrituras desde Abraão, passando por Moisés e pelos profetas (At 2,16.30.39). Releram com novo olhar a história de Jesus e a sua própria história por meio do discurso de Estevão (At 7,2-53).

Os discípulos e as comunidades superaram com muita firmeza e coragem o desafio da inculturação. Pouco a pouco as diferentes barreiras foram sendo vencidas, apesar das resistências dos grupos mais conservadores. A Palavra fez os seus caminhos e ajudou a comunidade a superar as dificuldades entre judeus e samaritanos (At 8,5-8.25) e as barreiras com as diferentes classes sociais, povos e raças (At 8,26-40). Venceram os preconceitos religiosos, acolhendo na comunidade os pagãos e os que representavam o poder do domínio estrangeiro na própria terra, como foi o caso de Cornélio, um centurião romano, acolhido na comunidade (At 10,1-47).

No livro dos Atos, Paulo é apresentado como o missionário e apóstolo incansável da Boa Nova. Tornou-se o modelo para os cristãos. No seu trabalho evangelizador tinha abertura às outras culturas, ao Império Romano, aos judeus, aos fracos e pobres. Lucas quis ressaltar as qualidades de Paulo como verdadeiro missionário e pastor no discurso que atribuiu a ele em Mileto, junto aos anciãos de Éfeso (At 20,17-38).


Querigma do Senhor

Uma apresentação de quem é o Senhor feita pelo profeta Isaías;   Is 45, 6-25

“5Eu sou o Senhor, sem rival, não existe outro Deus além de mim. Eu te cingi, quando ainda não me conhecias, 6.a fim de que se saiba, do levante ao poente, que nada há fora de mim. Eu sou o Senhor, sem rival; 7. formei a luz e criei as trevas, busco a felicidade e suscito a infelicidade. Sou eu o Senhor, que faço todas essas coisas. 8.Que os céus, das alturas, derramem o seu orvalho, que as nuvens façam chover a vitória; abra-se a terra e brote a felicidade e, ao mesmo tempo, faça germinar a justiça! Sou eu, o Senhor, a causa de tudo isso”. * 9. Ai daquele que discute com quem o formou, vaso entre os vasilhames de terra! Acaso diz a argila ao oleiro: “Que fazes?”. Acaso diz a obra ao operário: “És incompetente?” * 10. Ai daquele que ousa dizer a seu pai: “Por que me geraste?”. E à sua mãe: “Por que me concebeste?”. 11.Eis o que diz o Senhor, o Santo de Israel e seu criador: “Pretendeis pedir-me conta do futuro, ditar-me um modo de agir? * 12. Fui eu quem fez a terra, e a povoou de homens; foram minhas mãos que estenderam os céus, e eu comando todo o seu exército. 13.Fui eu quem, na minha justiça, suscitou Ciro, e quem por toda parte lhe aplaina o caminho; e é ele quem fará reedificar minha cidade e libertar meus deportados, sem recompensa nem dádivas” – diz o Senhor dos exércitos.* 14.Eis o que diz o Senhor: “Os pobres do Egito, os traficantes da Etiópia, os de elevada estatura de Sabaim, passarão para a tua terra e serão teus, eles te servirão e desfilarão acorrentados, eles se prostrarão diante de ti e te implorarão: ‘Deus só se encontra em tua morada, não tem rival algum, os outros deuses não existem.* 15.Verdadeiramente um Deus se esconde em tua casa, o Deus de Israel, um Deus que salva!’.* 16.Ficarão envergonhados e confusos todos aqueles que se lhe opuseram; ignominiosamente eles se retirarão os fabricantes de ídolos. 17.Israel obterá do Senhor uma salvação eterna, sem confusão nem vergonha, até o fim dos tempos”. 18.Eis o que diz o Senhor que criou os céus, ele, o único Deus que formou a terra e a estabilizou, que não a criou para que seja um caos, mas a organizou para que nela se viva: “Eu sou o Senhor, e não tenho rival. 19.Não tenho falado às escondidas, nem em uma terra tenebrosa. Não disse à raça de Jacó: ‘Procurai-me no caos’, eu, o Senhor, digo a verdade, e me manifesto com toda a franqueza. * 20. Vinde, reuni-vos todos, aproximai-vos, vós que fostes salvos dentre as nações! Nada disso compreendem aqueles que trazem seu ídolo de madeira, aqueles que oram a um deus impotente para salvar. 21.Fazei valer vossos argumentos, consultai-vos uns aos outros: quem havia predito o que se passa, quem o tinha anunciado desde longa data? Não fui eu, o Senhor, e nenhum outro? Não há Deus fora de mim. 22.Volvei-vos para mim, e sereis salvos, todos os confins da terra, porque eu sou Deus e sou o único, * 23. juro-o por mim mesmo! A verdade sai de minha boca, minha palavra jamais será revogada: todo joelho deve dobrar-se diante de mim, toda língua deve jurar por mim, * 24. dizendo: ‘É só no Senhor que se encontra a vitória e a força. A ele virão envergonhados todos aqueles que se tinham levantado contra ele; 25.mas toda a raça de Israel achará no Senhor o triunfo e a glória’.”
SINTESE PESSOAL
Iahweh, o Senhor da história, é quem dirige as nações e acontecimentos para dar liberdade e vida ao povo que a ele se aliou. Para realizar o seu projeto, Iahweh se serve da história dos povos, chegando mesmo a tomar um rei pagão para revesti-lo com a função de messias (ungido), própria dos reis de Israel. O Deus vivo não está confinado a um templo, nem a uma instituição, nem a determinada estrutura de religião: o lugar eminente do seu agir é a história e a vida. O v.7 salienta que Iahweh criou todas as coisas, e sabemos, pela Bíblia, que toda a criação é boa (cf. Gn 1,4.10.12 etc. Eclo 39,12-35). A distinção entre o bem e o mal começa a partir do posicionamento que o homem toma diante do projeto de Deus. 
Justiça e salvação sempre são frutos do céu e da terra, de Deus e do homem: Deus é quem concede, e o homem a recebe; Deus as criou e realiza através da criatividade humana. Como Senhor da história e do universo, Iahweh age de forma soberana; ninguém tem direito de questioná-lo, nem ele é obrigado a prestar contas do que faz. A libertação de Israel é o meio pelo qual Iahweh se manifesta ao mundo inteiro; todos o reconhecerão pelo modo como ele restabeleceu um povo que estava “morto”. E todos virão adorar o Senhor do universo e da história, escondido num povo que é nada perante as grandes potências.
Oráculo real de entronização, Ciro é chamado pelo seu nome, chamou-o para dominar sobre toda a terra. (Antigo Testamento).

COMPÊNDIO DO CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA

 

JESUS CRITO E ADÃO – JESUS É O NOVO ADÃO

 

“Na realidade o mistério do homem só se torna claro verdadeiramente no mistério do Verbo Encarnado”. (359)

São Paulo ensina-nos que dois homens estão na origem do gênero humano: Adão e Cristo… ” O primeiro Adão”, diz ele, “foi criado como um ser humano que recebeu a vida; o segundo é um ser espiritual que dá a vida.” O primeiro foi criado pelo segundo, de quem recebeu a alma que o faz viver… O segundo Adão estabeleceu sua imagem no primeiro Adão quando o modelou. E assim se revestiu da natureza deste último e dele recebeu o nome, a fim de não deixar perder aquilo que havia feito à sua imagem. Primeiro Adão, segundo Adão: o primeiro começou o segundo não acabará. Pois, o segundo é verdadeiramente o primeiro, como ele mesmo disse: “Eu sou o Primeiro e o Último”.

Com o progresso da revelação, é esclarecida também a realidade do pecado. Embora o povo de Deus do antigo Testamento tenha conhecido a dor da condição humana à luz da história da queda narrada no Gênesis, não era capaz de entender o significado último desta história, que só se manifesta plenamente à luz da Morte e Ressurreição de Jesus Cristo. É preciso conhecer a Cristo como fonte da graça para conhecer Adão como fonte do pecado. É o Espírito-Paráclito, enviado por Cristo ressuscitado, que veio estabelecer “a culpabilidade do mundo a respeito do pecado” (Jo 16,8), ao revelar aquele que é o Redentor do mundo. (388)

Todos os homens estão implicados no pecado de Adão.

São Paulo o afirma: “Pela desobediência de um só homem, todos se tornaram pecadores” (Rm 5,19). “Como por meio de um só homem o pecado entrou no mundo e, pelo pecado, a morte, assim a morte passou para todos os homens, porque todos pecaram…” (Rm 5,12). À universalidade do pecado e da morte o Apóstolo opõe a universalidade da salvação em Cristo: “Assim como da falta de um só resultou a condenação de todos os homens, do mesmo modo, da obra de justiça de um só (a de Cristo), resultou para todos os homens justificação que traz a vida” (Rm 5,18).  (402)

Jesus é concebido pelo poder do Espírito Santo no seio da Virgem Maria, pois ele é o Novo Adão que inaugura a nova criação: “O primeiro homem, tirado da terra, é terrestre; o segundo homem vem do Céu” (1 Cor 15,47). A humanidade de Cristo é, desde a sua concepção, repleta do Espírito Santo, pois Deus “lhe dá o Espírito sem medida” (Jo 3,34). É da “plenitude dele”, cabeça da humanidade remida, que “nós recebemos graça sobre graça” (Jo 1,16).  (504)

Jesus, o Novo Adão, inaugura por sua concepção virginal o novo nascimento dos filhos de adoção no Espírito Santo pela fé. “Como se fará isto?” (Lc 1,34), A participação na vida divina não vem “do sangue, nem de uma vontade da carne, nem de uma vontade do homem, mas de Deus” (Jo 1,13). O acolhimento desta vida virginal, pois esta é totalmente dada pelo Espírito ao homem. O sentido esponsal da vocação humana em relação a Deus é realizado perfeitamente na maternidade virginal de Maria. (505)

Toda a vida de Cristo é mistério de Recapitulação. Tudo o que Jesus fez, disse e sofreu tinha por meta restabelecer o homem caído em sua vocação primeira:

Quando ele se encarnou e se fez homem, recapitulou em si mesmo a longa história dos homens e, em resumo, nos proporcionou a salvação, de sorte que aquilo que havíamos perdido em Adão, isto é, sermos à imagem e à semelhança de Deus, o recuperamos em Cristo Jesus. É, aliás, por isso que Cristo passou por todas as idades da vida, restituindo com isto a todos os homens a comunhão com Deus. (518)

A submissão de Jesus a sua Mãe e a seu pai legal cumpre com perfeição o quarto mandamento. Ela é a imagem temporal de sua obediência filial a seu Pai Celeste. A submissão diária de Jesus a José e a Maria anunciavam e antecipava a submissão da Quinta-feira Santa: “Não a minha vontade…” (Lc 22,42). A obediência de Cristo no cotidiano da vida escondida inaugurava já a obra de restabelecimento daquilo que a desobediência de Adão havia destruído. (532)

Os Evangelhos falam de um tempo de solidão de Jesus no deserto, imediatamente após seu Batismo por João: “Levado pelo Espírito” ao deserto, Jesus ali fica quarenta dias sem comer, vive com os animais selvagens e os anjos o servem. No final dessa permanência, Satanás o tenta por três vezes, procurando questionar sua atitude filial para com Deus. Jesus rechaça esses ataques que recapitulam as tentações de Adão no Paraíso e de Israel no deserto, e o Diabo afasta-se dele “até o tempo oportuno” (Lc 4,13). (538)

Os evangelistas assinalam o sentido salvífico desse acontecimento misterioso. Jesus é o novo Adão, que ficou fiel onde o primeiro sucumbiu à tentação. Jesus cumpre à perfeição a vocação de Israel: contrariamente aos que provocaram outrora a Deus durante quarenta anos no deserto, Cristo se revela como o Servo de Deus totalmente obediente à vontade divina. Nisso Jesus é vencedor do Diabo: ele “amarrou o homem forte” para retornar-lhe a presa. A vitória de Jesus sobre o tentador no deserto antecipa a vitória da Paixão, obediência suprema de seu amor filial ao Pai. (539)

Cristo desceu, portanto, no seio da terra, a fim de que “os mortos ouçam a voz do Filho de Deus e os que a ouvirem vivam” (Jo 5,25). Jesus, “o Príncipe da vida’, “destruiu pela morte o dominador da morte, isto é, o Diabo, e libertou os que passaram toda a vida em estado de servidão, pelo temor da morte” (Hb 2,14-15). A partir de agora, Cristo ressuscitado “detém a chave da morte e do Hades” (Ap 1,18), e “ao nome de Jesus todo joelho se dobra no Céu, na Terra e nos infernos” (Fl 2,10).

Um grande silêncio reina hoje na terra, um grande silêncio e uma grande solidão. Um grande silêncio porque o Rei dorme. A terra tremeu e acalmou-se porque Deus adormeceu na carne e foi acordar os que dormiam desde séculos… Ele vai procurar Adão, nosso primeiro Pai, a ovelha perdida. Quer ir visitar todos os que se assentaram nas trevas e à sombra da morte. Vai libertar de suas dores aqueles dos quais é filho e para os quais é Deus: Adão acorrentado e Eva com ele cativa. “Eu Sou teu Deus, e por causa de ti me tornei eu filho. Levanta-te, tu que dormes, pois não te criei para que fiques prisioneiro do inferno. Levanta-te dentre os mortos, Eu Sou a vida dos mortos. (635)

Fonte: Compêndio do Catecismo da Igreja Católica

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